Dec 24, 2003

Two books.

Nove Noites by Bernardo Carvalho

and

Valsa Negra by Patrícia Melo

Li os dois compulsivamente, de uma sentada, como se diz por aqui. Acho que Patrícia se perde do meio para o final do livro. A descrição da loucura galopante do maestro se torna repetitiva. Achei Nove Noites mais interessante, a selva é mais intrigante do que a sala de concerto. Mas em ambos senti a falta de um final definitivo, como se nenhum dos autores tivesse a coragem de ir às vias de fato, dando a cada um dos romances um desfecho inequívoco. Aquela sensação besta de cópula sem orgasmo.

Labels:

Dec 13, 2003




Desmobilia has some cool stuff in case madam is redecorating, like myself. I'm off to Piracicaba in a few hours. Since I'm now officially on vacation, posting activity may pick up at the Enigmatic Mermaid but again, at least until New Year's when we're taking our bags and bones to the beach-house in São Sebastião...It has been a very tiring year for me. Total translation burnout at this point.

And after this week's interpreting I know more about MPLS than I ever imagined possible.

Labels:

Interested in Afrikaans and Arabic glossaries? Have a look at GlossPost, our volunters have contributed a ton of links in the past week covering these languages. But my favorite from last week's glossary harvest is Menutext.

Labels:

For Novice Interpreters. The tone is a bit discouraging and patronizing. Vega was set up by established interpreters wishing to provide useful and cautionary information to the newcomers to the profession. I mean, just the fact that it's listed under Interpreter Wannabe in the AIIC website, come on, aren't there more respectful ways of calling newcomers?

Labels:

Gafes das Arábias. Originally published by JB online.

Diálogos mal traduzidos, discursos abreviados, erros históricos. A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a países do Oriente Médio foi marcada por graves deslizes na comunicação com os chefes de Estado árabes. Mas não se pode culpar o tradutor, e muito menos recorrer ao provérbio italiano, segundo o qual todo tradutor é um traidor. Apontado como um dos responsáveis pelos erros de tradução, o professor Said Khoury é, na verdade, um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Khoury foi contratado pela Abin para dar aulas de árabe e francês. Ensina agentes e analistas de informação. Nem os colegas dele na Abin esperavam ver o pacato professor na tela da TV, falando ao ouvido de Lula. Mesmo com toda a prática em sala de aula, a tradução da conversa de Lula com o presidente do Egito, Hosni Mubarak, foi desastrosa.

Entre os erros, Khoury teria avançado em 100 anos a data da visita do imperador dom Pedro II ao Líbano. Transferiu o fato histórico de 1876 para 1976. Até os jornalistas egípcios consideraram a confusão imperdoável. Khoury foi ''convocado'' para viajar ao lado do presidente Lula ao Oriente Médio. Além das aulas, o professor ajuda a traduzir documentos. Com o crescimento do terrorismo no mundo, o governo tratou de contratar professores de idiomas árabes e asiáticos para treinar os agentes e analistas da Abin.

Os funcionários de embaixadas de países árabes conhecem Khoury há muito tempo. Ele traduz textos por encomenda. O telefone que o professor deixa nas embaixadas, para contatos, é um dos ramais da Abin. O nome de Khoury não está registrado como tradutor juramentado no cadastro de profissionais da Embaixada do Líbano. A tradução juramentada é a única que tem reconhecimento perante a Justiça.

Segundo funcionários da embaixada, Khoury não tem muita prática da tradução simultânea. Uma tradutora de árabe, que preferiu não se identificar, afirmou que a tradução para o português é ''complicada''.

Colega de Khoury, ela diz que não é necessário estar registrado como tradutor juramentado para traduzir conversas entre dois presidentes, mas acha que só uma pessoa com muita experiência pode fazer tradução simultânea. Os colegas de Khoury na Abin não deram muita importância aos erros de tradução do professor durante a conversa de Lula com o presidente. Acompanharam emocionados a imagem do professor na televisão, entre os dois
presidentes.


- É o nosso Khoury no Líbano! - festejou uma funcionária da Abin.

Labels:

Dec 8, 2003

Uma Torrada ao Tradutor Desconhecido.

Nelson Ascher

É fácil zombar de um tradutor que, se fosse bem pago e dispusesse de bons dicionários, após conferir o sentido de "dog days" (canícula: os dias mais quentes do verão), teria, quando lidou com o filme "Dog Day Afternoon" (1975), abandonado a referência forçada ao melhor amigo do homem e, em vez de chamá-lo de "Um Dia de Cão", talvez o vertesse mais apropriadamente como "Uma Tarde de Calor".

E, malgrado ser cruel exigir de alguém que soubesse que "Three Dog Night" (uma banda americana formada em 68) quer dizer "uma noite muito fria" (pois os aborígenes australianos usavam seus cachorros, os dingos, como cobertor), não é demasiado esperar de um profissional que verifique se nos países anglófonos realmente se brinda "fazendo uma torrada" ("making a toast") ou se seus idosos retiram-se de fato ("retire") em vez de se aposentarem.
Quantos, porém, reconhecem os achados preciosos de algum herói anônimo? "Home Alone" (1990) diz o necessário e, por causa da rima, soa agradável. Vertê-lo por "Sozinho em Casa" tiraria toda a graça que, todavia, "Esqueceram de Mim" lhe restitui. Embora a tradução esteja longe do literal, quem a fez viu o filme e, partindo dele, chegou a algo que funciona tão bem quanto o original.

Outra tarefa corretamente cumprida foi o título brasileiro de "Ordinary People" (1980). Enquanto um profissional médio teria chegado, digamos, a "Pessoas Comuns" (para nem falar de tradutores de poesia capazes de atrocidades como "Povo Ordinário"), um anônimo competente descobriu a expressão coloquial que corresponde ao sentido da inglesa: "Gente como a Gente".

Devido, provavelmente, a um programa embutido milênios atrás em nossa massa cinzenta, uma das fontes inesgotáveis de humor continua sendo a semelhança sonora entre palavras que veiculam sentidos diferentes ou contraditórios. Se bem que tais paralelos, decorrendo no mais das vezes do acaso, quase nunca se repetem idênticos em línguas diferentes, nem por isso jogos de palavras constituem obstáculos necessariamente intransponíveis.

Em "Fun with Dick and Jane" (1977), aliás simpaticamente rebatizado de "Adivinhe Quem Vem para Roubar", uma paródia de "Adivinhe Quem Vem para Jantar" ("Guess Who's Coming for Dinner", 1967), um casal de alta classe média que perde a fonte de renda acaba, para manter sua posição social, recorrendo ao crime. Este logo começa a render além do esperado e, quando no coquetel que os protagonistas promovem comemorando seu reencontro com a fortuna alguém lhes pergunta qual o ramo a que se dedicam e o marido (George Segall) lhe responde "steal" (roubar/assaltar), seu interlocutor comenta que o aço ("steel") é um ótimo negócio.

Adequadamente, a versão brasileira também se vale de um trocadilho plausível: "assalto/asfalto". ("Rouba/roupa" teria, sem prejuízo do humor, dado igualmente certo).

Cada qual dos exemplos acima, por insignificante que pareça, não deixa de ser a solução inteligente para um problema que, na sua complexidade, encapsula a essência da tradução literária, algo que consiste, primeiro, em formular claramente tal ou qual dificuldade e, depois, em procurar a melhor solução possível.
Sem prescindir jamais da inspiração e de "insights", a atividade em questão possui uma natureza sobretudo racional. E é nesta que se oculta uma razão, quem sabe a principal, para que o estatuto enobrecedor de arte lhe seja habitualmente negado.

Há mais de 200 anos, desde pelo menos o romantismo e atravessando o simbolismo e o surrealismo antes de chegar à contracultura (que, se já não se manifesta tão impositivamente, ainda preserva certa hegemonia difusa), uma das maneiras dominantes de apreciar e entender as artes tem sido a que lhes atribui o papel de contraponto ao racional ou de seu pólo oposto, uma tentação particularmente sedutora perante uma audiência à qual a modernidade não cessa de impor, no dia-a-dia, exigências cada vez maiores de racionalidade.

Segundo tal visão, as artes seriam produto não tanto da sensibilidade cultivada e exercitada ou do pensamento exigente e meticuloso como, oscilando ao sabor de terminologias e jargões diversos, seja da alma e do espírito, seja do inconsciente privado ou coletivo, quando não de potências divinas ou demoníacas. Em todo caso, os ditames da racionalidade cotidiana não se aplicariam a elas.

Entre os que partilham dessas concepções, a tradução, devido a seu necessário pragmatismo e sofrendo, em consequência, de um excesso de cerebralidade associado a um déficit de espiritualidade, fica obrigatoriamente confinada a um degrau hierárquico inferior: na melhor das hipóteses, o de ofício. Agravando a situação, ela é, no que tem de melhor, uma resposta a algo que, para poder ser solucionado, teve de ser formulado enquanto um problema.

Acontece que aquilo que o tradutor aborda já surgira como solução de algum problema prévio. O pressuposto da traduzibilidade é o de que o autor também buscou resolver questões passíveis de serem formuladas, por exemplo: como fazer uma canção de amor sem cair na pieguice ou um poema político que não soe demagógico? A qualidade de uma obra, para quem a veja assim, mantém uma relação direta, por um lado, com a pertinência das questões que lhe dão origem e, por outro, com a inteligência das respostas elaboradas pelo autor.
Se quiser responder ao que era anteriormente uma resposta, o tradutor precisa reformulá-la enquanto indagação, refazendo inversamente o caminho percorrido por quem escreveu o original, de modo a descobrir qual era sua pergunta.

Labels:



For Little Girls and Boys. Yesterday we had great fun at the award-winning play "Por que o mar chora tanto" by Meninas do Conto. It's playing at Teatro Folha in São Paulo. Meninas do Conto reclaim the old art of storytelling with simplicity and mastery.

We have also been reading The King of Capri together, beautifully illustrated by Jane Ray.

Labels: ,

Elizabeth Costello. I'm reading Elizabeth Costello and getting increasingly intrigued with this book (excerpt here).

Realism has never been comfortable with ideas. I could not be otherwise: realism is premised on the idea that ideas have no autonomous existence, can only exist in things. So when it needs to debate ideas, as here, realism is driven to invent situations- walks in the countryside, conversations- in which characters give voice to contending ideas and thereby in a certain sense embody them. The notion of embodying turns out to be pivotal. In such debates ideas do not and indeed cannot float free: they are tied to the speakers by whom they are enounced and generated from the matrix of individual interests out of which their speakers act in the world (...)


Interesting that a book structured around a series of talks given by a novelist should say that. Ironic too.

Related: A Report to an Academy by Kafka which is the departing point of many of Elizabeth Costello's talks.

Labels:

Dec 4, 2003

Um tesão. Polaroid pictures by Brazilian photographers and the best of Brazilian graphic design.

Check out also:

www.portomartinez.com
www.rexnet.com.br(great wacky fonts)
young Brazilian photographers at Galeria Vermelho

Labels: