Jul 14, 2007

Valhei-me São Jerônimo. Toda cautela é pouca quando você vai interpretar em uma reunião entre advogados.

Além do clima super tenso, do medo dos grampos e da paúra de errar um termo jurídico, se os advogados forem americanos, não tem coffee-break. Na mesa, água, café e balinhas de menta, sem um mísero pão de queijo para matar a fome.

É uma pauleira sem pausa para amenidades que pode se prolongar muitas horas após o seu cérebro ter adquirido a consistência de um quilo de carne moída. O ar-condicionado desligado eleva a temperatura da sala a uns 40 graus centígrados e resseca a sua garganta, produzindo condições ideais para um acesso de tosse.

No momento em que um impasse provoca a dispersão dos participantes pelos corredores em busca de um cigarro, você assume a sua melhor cara de samambaia e procura se afastar ao máximo de todos os grupinhos. O assunto que estão discutindo é tão confidencial que você sente que melhor era não ter ouvidos, nem olhos, nem existência corpórea.

Vocês voltam para a sala e o advogado resolve inesperadamente ler um contrato. Obviamente, ele não providenciou uma cópia para você. Nem por isso vai deixar de lê-lo rapidamente, porque a intenção é justamente confundir todos. Para melhorar as coisas, tem uma baita interferência no portátil. Você tem que interpretar na posição do bule de chá, com a mão grudada no quadril, segurando o transmissor em total imobilidade, porque se você movê-lo um milímetro vai ser aquela chiadeira.

Você está interpretando em pé, andando de lá para cá, porque desistiram de colocar um microfone de mesa, e você mal e mal está ouvindo a torrente de termos jurídicos. Você não quer invadir o espaço sagrado da mesa de reuniões com uma profanante garrafinha d'água e por isso não tem como molhar os lábios durante a sua meia hora. E de repente, o acesso de tosse vem com a violência de um terremoto. A outra intérprete está na sala e assume o microfone enquanto você tosse até lacrimejar. São 8 horas da noite e depois de ameaçarem com mais duas horas de overtime, eles decidem encerrar a reunião e retomar no dia seguinte às 8 da manhã. Você agradece a São Jerônimo e jura de pé junto que nunca mais vai trabalhar em uma reunião de advogados em sua vida.

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2 Comments:

Blogger Paula Góes said...

Oi! Desculpa rir da miséria alheia dessas pessoas que você cita no post, mas ficou hilário - que São Jerônimo cuide bem de você na próxima!

7:47 PM  
Blogger Neuza said...

Cruzes, Sereia! Isso está mais pra penitência. Ao menos rendeu um texto engraçado. Que Netuno te guie para oceanos mais amenos... :-) Beijão.

4:28 AM  

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